Em 2000, paternalismo dara espaço para à solidariedade

É o que analisa a filósofa, economista e especialista em neurolingüística, Susan Leibig. Ela acredita que a sociedade brasileira está abandonando a visão paternalista e caminhando para a verdadeira democracia

Paternalismo dando espaço à solidariedade e à democracia. Essa é a análise feita por Susan Leibig, filósofa, economista e neurolingüista. Susan é diretora do Susan Leibig Institute, entidade que ministra cursos e palestras voltadas para o desenvolvimento do comportamento humano.

Longe das previsões esotéricas e das considerações religiosas, a filósofa analisou o comportamento da população brasileira, através da e lógica e dos princípios da ética.

Ela argumenta que, até agora, as pessoas estão acostumadas a ver os governantes como "pais", que têm a obrigação e o dever de proporcionar a seus "filhos", o povo, boas condições de vida (saúde, educação e trabalho). "Essa é, realmente, a função de um Governo, mas quando temos uma máquina com vírus, como é a nossa, não resta outra saída para os cidadãos, a não ser assumir as obrigações delegadas aos governantes. Não adianta só reclamar e ficar esperando que ‘o pai protetor’ resolva tudo, pois as coisas tendem a ficar na mesma. Todos metem o pau no sistema de saúde, por exemplo, mas porque as empresas privadas não colaboram adotando hospitais?", diz.

Susan acredita que as manifestações solidárias irão aumentar a partir de 2000, contribuindo para a decadência desse esquema paternalista. "Essa é a grande mudança que vejo. Pessoas físicas e jurídicas têm se mostrado dispostas a preencherem as lacunas que o governo não preenche. Tenho conversado com muitos empresários e todos eles comentam que sonham em promover alguma ação que beneficie a população carente, os doentes, etc.".

A filósofa diz que a estrutura paternalista se formou desde o descobrimento do país, se desenvolveu no colonialismo e se acentuou no imperialismo. "Era um acordo tático. As pessoas que serviam as autoridades, viviam de benesses. Eram benevolentes com elas e em troca recebiam regalias, favores. Dentro dessa estrutura, tivemos durante muito tempo uma postura passiva diante das atitudes do governo. Salvo fatos da história brasileira que geraram manifestações espontâneas da massa, como a morte de Getúlio Vargas (1954), a revolução de 64 (que começou com os políticos e depois contagiou os cidadãos), as mortes de Getúlio Vargas e Tancredo Neves, o movimento das Diretas Já, e o impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello", lembra.

"A população começou a perceber e ter maior consciência de sua força, fazendo uso de sua cidadania. Sentindo-se oprimido pelas dificuldades financeiras, o desemprego, a violência, começou a desenvolver um sentimento de compaixão e amor ao próximo, quando precisou juntar-se a outros nos momentos de dificuldades. Aí privilegiou a ação, em detrimento da reclamação, passando a agir em prol de si mesmo e em benefício do próximo. Percebeu que o Governo sozinho, não dá conta de tudo e não porque não queira, é que não tem como gerir o macro, pois se formaram núcleos de poder, dentro do próprio Executivo, que desafiam o presidente", ressalta.

Ela afirma que as manifestações de solidariedade vêm crescendo tanto, que estariam formando um inconsciente coletivo (quando todas as pessoas tendem a ter um mesmo pensamento e sentimento a respeito de algo, ou de uma situação). "Estamos caminhando para uma democracia, de fato. A pirâmide social está sendo, pouco a pouco reorganizada e pelos próprios cidadãos. É a sociedade reinventando a própria sociedade, para acabar com as diferenças", diz ela.

Susan destaca as "boas ações" de pessoas abastadas como o bilionário Bill Gates, dono da empresa Microsoft (o homem mais rico do mundo), que doa milhões a instituições de caridade e a realização de pesquisas nos campos da medicina e da ciência; a empresária Viviane Senna (irmã de Ayrton Senna, piloto de Fórmula 1, morto em 1994), que criou um instituto com o nome do irmão, que atende crianças carentes; e de entidades como a Fundação Peirópolis, que forma pessoas sobre os valores humanos e o PT (Partido dos Trabalhadores), que à exemplo da Força Sindical e dos Sindicatos dos Metalúrgicos de São Paulo e Osasco, está fazendo um belo trabalho de requalificação de pessoas, para o mercado de trabalho.

Ela ressalta ainda, o trabalho da igreja Universal, que está levando tecnologia israelense para o Nordeste, e o da igreja Católica também tem atuado favoravelmente nessa região. "Mesmo quem promove ações sociais benéficas por interesse, aos poucos terá seu coração tocado. Os filhos dessas pessoas vão herdar essa noção de solidariedade. O amor incondicional que é a base dos ensinamentos de todos os mestres está se materializando, justamente porque deixará de ser um sentimento isolado para ser social. Esse tipo de mentalidade e atitude, vai fazer o mundo melhorar. Aos poucos as diferenças sociais estarão cada vez menores", acredita.

Para Susan, dentro da lei da causa e efeito (em que cada atitude, tem uma reação compatível, bem ao estilo do ditado que diz "colhemos aquilo que plantamos") a solidariedade demonstrada por muitas pessoas da classe endinheirada, nada mais é que uma resposta à boa índole, a boa vontade e o bom caráter da população pobre, que teria feito com que a ajuda viesse. "É a misericórdia de Deus, manifestando-se", garante.

(Susana Camargo)


Volta para o topo
                                                                                                             Volta para os Artigos