EU ME AMO, EU ME AMO, EU NÃO CONSIGO VIVER SEM MIM...
A música que embora não seja um primor da MPB, reflete muito bem a necessidade de cada um de nós amar antes de tudo a si próprio para depois poder amar aos outros, traz também à discussão um tema muito esquecido – embora muito importante – dos dias de hoje: a auto-estima. Ás vezes, numa rápida análise de comportamentos diversos, é fácil para qualquer um de nós identificar complexos e frustrações em inúmeras pessoas do nosso convívio social, mas em geral nunca sabemos identificar em nós mesmos quais os tipos de mecanismos que criam esse tipo de comportamento enganoso dentro do nosso eu. Então, para conversarmos a esse respeito, escolhemos alguém muito especial para a entrevista principal do nosso jornal de setembro : dra. Susan Leibig, especialista em neurolingüística e em Ética.
Segundo a Neurolingüística, nosso cérebro funciona basicamente como um computador e seus comportamentos são chips. Por isso, em casos nos quais os comportamentos são inadequados, é possível reprogramá-los como se apenas trocássemos o chip.
Claro, em certas circunstâncias, é importante o coadjuvante de uma terapia, para se estabelecer onde o comportamento inadequado foi gerado para, só então, reprogramá-lo. Mas é possível "consertar" qualquer comportamento.
De posse dessa informação, a dra. Susan Leibig fala com muita propriedade sobre o nosso tema: a auto-estima: "A auto-estima nada mais é do que um conjunto de valores que nós montamos para classificar o nosso eu. Quem é o nosso eu? Que valor nós temos?"
E aí , dra. Susan, então, quando surge o problema de não ter ou de a gente não se dar justo valor? Na infância, por causa da educação?
"O problema ocorre mais ou menos assim: normalmente, nós temos um eu com determinadas características, formadas por dois grupos de informações: um grupo a que chamamos de possibilidades, que são todas as qualidades que o nosso eu tem, que quando nós as manifestamos as pessoas gostam, nos aplaudem e nós nos sentimos valorizados. E o outro grupo que nós chamamos de limitações, que são as coisas que nós talvez gostaríamos de ter, ser ou fazer, mas que infelizmente o nosso eu não tem essas possibilidades. Então, aí, a gente olha as outras pessoas e pensa: aquela moça tem um corpo lindo; aquele rapaz tem um belo nariz; eu gostaria de ter aquela predisposição para o trabalho... A gente, então, está tomando um referencial externo para comparar o nosso eu. Aqui, é importante fazer um observação: nós vivemos numa sociedade autoritária, e por isso mesmo passamos o tempo todo fazendo julgamentos de tudo e todos. Nesses julgamentos, avaliamos se aquilo que estamos julgando nos parece igual, melhor ou pior do que nós mesmos. Voltando aqueles dois grupos: quando avaliamos alguém e com base naquelas nossas limitações nos sentimos inferiores à pessoa julgada, surge o complexo de inferioridade. Evidentemente, existem pessoas que possuem uma auto-estima mais ou menos constituída e conseguem não criar tantos complexos de inferioridade. Mas a maciça maioria passa por esse processo de julgamento classificando o seu eu inferior.
Então, classifica uma vez, duas vezes, três vezes, quatro vezes como inferior, começa a sentir que o seu eu não tem o valor que se gostaria que tivesse e sua auto – estima vai caindo. A partir do momento em que você começa a se depreciar, você começa a procurar mecanismos de compensação para isso, porque ninguém consegue viver se sentindo o cocô de mosquito no rabo do cavalo do bandido o tempo todo. O que ocorre? Você começa a criar um chamado eu paralelo, o eu que você idealizou como um eu ideal. Por exemplo, o seu eu verdadeiro é o eu A; o modelo que você cria é o eu B. Esse B é como se fosse um mosaico, criado a partir de um pedacinho de cada pessoa que você admira em determinada área. Então, você cria o seu eu B com a predisposição para o trabalho do Fulano; a meiguice do Cicrano; a força do Beltrano. A gente também cria parte desse mosaico baseado nas opiniões que as pessoas fazem da gente. É aí que o critério educacional, tanto escolar quando familiar vai influir: aquilo que você aplaude na criança quando ela faz certo e o que você reprime quando ela faz errado".
O que fazemos com a criança
Nesse momento, a dra. Susan Leibig, relembra como educamos as nossas crianças: "Até os dois anos – diz ela – toda vez que a menininha sobe no sofá com o sapatinho, os pais aplaudem, dizem: Puxa, que linda, ela já consegue subir no sofá... Depois disso, um belo dia a mãe bate na menininha e diz: Coisa feia, subir no sofá com o sapato. Isso dá um nó na cabeça da criança. Ela pensa: O que houve: Será que o mundo ficou louco ou eu é que estou errada? Como o mundo é composto por autoridades (pai, mãe, avós, tias, etc.) ela chega à conclusão que o defeito é dela e muda o comportamento – claro, isso na maioria dos casos. Ela quer voltar a receber os mesmos aplausos de antes: E assim todos nós para tudo vamos mudando nossos comportamentos para receber os aplausos, para satisfazer o meio - ambiente. Porque a falta desses aplausos nos provoca carências: é a carência que gera o complexo de inferioridade.
É claro que a partir do momento que você cria comportamentos alternativos para compensar suas carências, você está agindo contra o seu eu autêntico, como se você fosse uma atriz e estivesse durante aquele período em que está agindo com seu eu B num palco, representando, e é claro também que como nós vivemos em sociedade, todos nós temos esse eu B e em determinadas situações deixamos ele agir e colocamos de lado nosso eu A, autêntico. O problema é quando o eu autêntico nunca vem à tona , porque ai é como se fosse o tempo todo a atriz atuando, sem nunca descansar. Uma hora, a atriz cansa e entra em parafuso".
E isso é freqüente, dra.? O eu A nunca vir à tona?
"Não. Mas aí é necessário que se faça uma colocação importante: temos carências em determinadas áreas, umas mais do em outras; e é nessas
áreas que deixamos o eu B tomar a frente. Explico melhor: a auto – estima se baseia em cinco pilares fundamentais: a) busca de poder; b) busca de prestígio; c) busca de segurança; d) busca de afeto e e) busca de liberdade.
A auto – estima se baseia na construção de conceitos que montamos sobre o nosso eu em cima desses 5 pilares: se o meu eu tem poder; se tem prestígio, se está seguro, se é amado e se pode fazer tudo o que deseja, se é dono da sua liberdade.
Então, na hora de montar aquele mosaico, o eu B, em geral criamos conceitos baseados no exterior, no que as pessoas acham do nosso eu em um, dois, três, quatro e até nos cinco pilares.
Por exemplo, se a carência que você tem é de poder e prestígio seu eu B vai ter características narcisistas, você vai se preocupar muito mais com a sua aparência física, com a roupa, para que estando sempre bem as pessoas a olhem e digam: Puxa, que pessoa poderosa, maravilhosa.
Já se a sua carência for de poder e segurança, seu eu B será perfeccionista, por quê? Porque sendo perfeccionista, fazendo tudo perfeito, nada lhe foge do controle. E toda vez que as pessoas virem seus resultado brilhantes, a aplaudam. A sua carência será alimentada.
Se a carência é de poder e afeto, a pessoa será tipo mãezona, conselheira, porque com a desculpa de que você ama as pessoas, quer lhes ser útil, você aproxima pessoas mais fracas que você, que precisam de ajuda e, uma vez ajudadas, se sentirão gratas e vão reforçar sua carência, aplaudindo-a
E quando a carência é de poder e liberdade, você terá um eu B tirano, porque você vai querer poder manifestar sua liberdade e seu poder da forma como você bem entender. Esse tipo se sente superior a todo mundo; é o tipo que quando é ultrapassado por alguém no trânsito, não sossega enquanto não ultrapassar também, e xingar a pessoa . É o tipo perigoso, que não pode se sentir inferiorizado por ninguém.
Eu vou frisar mais uma vez: todos nós temos todas essas características e mais as resultantes das carências de prestígio e afeto, por exemplo; de prestígio e poder, etc... Apenas, cada pessoa tem mais evidenciada uma das carências do que a outra, em função do tipo de complexo que tivemos ao longo do processo todo. Então, por exemplo, em casa você pode ter um eu tirano; no trabalho, um eu perfeccionista; em sociedade, um eu narcisista; etc".
E voltando à questão do eu autêntico...
"Voltando ao seu eu autêntico, é preciso não perder de vista que todos nós, fundamentalmente, possuímos um eu A e um B; vivemos em sociedade e isso é até necessário, por que? Porque, por exemplo, o meu eu autêntico diz que o melhor jeito de eu me vestir é à vontade, de calça jeans e tênis.
Só que, quando eu vou a uma empresa levar meu trabalho, eu sei que a melhor forma de me vestir não é essa. É socialmente correto colocar um salto alto, uma saia... Então, eu utilizo as ferramentas do meu eu B, que sabe que é melhor me vestir de forma mais produzida, e vou à empresa. Claro que quando eu voltar para minha casa, vou colocar meu jeans e meu tênis novamente. É essa a questão. Todos temos de nos utilizar do nosso eu B em várias oportunidades da nossa vida cotidiana. Só que não podemos simplesmente esquecer o nosso eu autêntico, ou sufocá-lo. Ele tem de ter o seu papel em nossa vida, senão fica inviável para qualquer pessoa ser "atriz" o tempo todo e aí surgem aqueles questionamentos do tipo: O que eu estou fazendo da minha vida? Porque eu – mesmo tendo um ótimo carro, uma linda casa, um excelente emprego, filhos perfeitos, saúde ótima – não sou feliz?
O que fazer nessa hora? Procurar algo que traga de volta o seu eu autêntico.
Existem pessoas que conseguem isso através de uma religião; outras, através de um esporte ou da música; a maioria precisa mesmo, é de terapia de um profissional que a ajude a ver onde estão as carências, porque elas foram geradas e aprenda a reestruturar melhor sua auto-estima, dando vazão a seu eu autêntico. É a melhor saída".
A dra. Susan Leibig pode falar disso com muita propriedade, diante da experiência de muitos anos de trabalho em cursos de neurolingüística e de terapia com pessoas que através de seus cursos e de sua terapêutica aprenderam a se reprogramar para serem mais felizes em muitos campos, com o da sedução (como utilizar a comunicação para se entender melhor com o meio ambiente); o da preguiça; o da teimosia; o do emagrecimento (a própria dra. Susan Leibig se reprogramou e emagreceu todos os quilos que quis sem deixar de comer, sem fazer ginástica, nem ficar anêmica); entre outros. Se você é uma dessas pessoas que está precisando da ajuda de um profissional competente, o telefone da dra. Susan é 258-9465
Fonte: Jornal Século 21 – Ano III no. 41 – Setembro de 1995
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